Tabagismo atinge 9,51% da população brasileira

Estudo revela que brasileiro gasta cerca de 10% da renda mensal em cigarro no País

O tabaco causa a morte de milhões de pessoas por ano em todo o mundo. De acordo com o último levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o tema, o tabaco mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano. Desse total, 7 milhões de óbitos são causados pelo uso direto do produto, e 1,2 milhão de falecimentos são resultantes de exposição passiva ao fumo, os chamados “não fumantes”. 

No Brasil, estudo realizado pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer) revela que 9,51% da população são fumantes, o que significa que uma a cada grupo de dez pessoas fuma. O tabagismo, ainda segundo o levantamento, causa a morte de mais de 200 mil pessoas ao ano. Ou seja, morrem por dia no País cerca de 450 pessoas por causa do fumo. O estudo foi divulgado na última quarta-feira (31).

E engana-se quem pensa que o cigarro é o único responsável pelas doenças causadoras de mortes decorrentes do tabagismo. Conforme o Inca, há diversos produtos derivados de tabaco. “Charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, bidi, tabaco para narguilé, rapé, fumo de rolo, dispositivos eletrônicos para fumar e outros, informa o instituto em seu portal. 

Ainda segundo o estudo, o tabagismo contribui para o desenvolvimento de vários tipos de câncer. “Leucemia mieloide aguda; câncer de bexiga; câncer de pâncreas; câncer de fígado; câncer do colo do útero; câncer de esôfago; câncer de rim e ureter; câncer de laringe –  cordas vocais; câncer na cavidade oral – boca; câncer de faringe – pescoço; câncer de estômago; câncer de cólon e reto; câncer de traqueia, brônquios e pulmão”, informa o texto.

Além disso, o tabagismo também colabora com o desenvolvimento de outras enfermidades, além da associação às doenças crônicas não transmissíveis. Tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose e catarata são algumas delas, alerta o Inca.

MAIS NÚMEROS

Das mortes informadas no estudo, 37,7 mil correspondem às DPOCs (Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas), 33,2 mil referem-se às doenças cardíacas, 25,7 mil são por causa de outros tipos de câncer, 24,4 mil decorrem de câncer de pulmão, 18,6 mil são consequência do tabagismo passivo e outras causas, 12,2 mil são causadas por pneumonia e 10 mil são devido ao AVC (Acidente Vascular Cerebral).

“A disseminação da nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, tais como pulmão, cérebro e outros. Ela também é encontrada na saliva, no suco gástrico, leite materno, músculo esquelético e no líquido amniótico, acrescenta o texto.

Ainda de acordo com a pesquisa, apesar de o número de viciados em tabaco apresentar queda, os custos de saúde com o SUS (Sistema Único de Saúde) com tratamento a pacientes com enfermidades decorrentes do tabaco atingem a casa de R$ 125,1 bilhões anuais, e 161.853 mortes anuais poderiam ter sido evitadas. O brasileiro gasta cerca de 10% da sua renda mensal na compra de cigarro. Entre a faixa etária de 15 a 24 anos, essa porcentagem sobe para 11%.

Produtos eletrônicos com tabaco e também os “que não produzem fumaça também estão associados ou são fator de risco para o desenvolvimento de câncer da cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas patologias buco-dentais, acrescenta o texto”.

A nutricionista Juliana Malheiros, 27 anos, moradora de São Paulo, é fumante desde os 15. O início ainda muito jovem, revela ela, deveu-se ao fato de que queria experimentar. Além disso, ver nas ruas os jovens com que saíam fumando ajudou a alavancar o vício. No princípio, consumia dois, quatro e até seis cigarros diariamente, mas depois os números foram aumentando. 

“Hoje, fumo em média oito, dez cigarros por dia, mas se eu passar algumas horas bebendo em um churrasco, por exemplo, fumo mais”, entrega a jovem. “Há muito tempo fiz as contas do quando gasto, porém, não lembro, e agora com certeza é bem mais. Se não gastasse com cigarro, provavelmente guardaria esse valor”, acrescenta a nutricionista. 

Já a vendedora Mayara Soares Sato, 28 anos, também moradora de São Paulo, não teve motivo especial para iniciar no tabagismo, em 2006, apenas “achava legal” e queria fazer igual ao ver as pessoas próximas “soltando fumaça”. Entretanto, diz que hoje fuma apenas um cigarro por dia. 

Ela lembra que já teve parente com problemas de saúde devido ao tabaco. “Faz um ano, o que causou enfisema pulmonar e fêmur necrosado. Por um período só conseguia respirar com ajuda de oxigênio. Hoje tem mobilidade reduzida e vai precisar operar por causa do fêmur”, conta. Ela acrescenta que se não tivesse o vício, certamente os custos com cigarro seriam direcionados a viagens. 

Outra adepta do tabagismo, Mariana Bianco da Silva, 31 anos, assistente de operações de São Paulo, ostenta o status de fumante desde os 16. “Fumo de dois a seis tabacos por dia e o dobro no final de semana”, informa ela. Os recursos que teria economizado se não tivessem sido dispensados à compra de cigarro seriam, garante ela, usados para viagens. 

“O vício é difícil de ser explicado. Porém, os momentos mais difíceis quando você para são aqueles que se tornaram quase um ‘ritual’. Se eu acordo todo dia e tomo café e fumo um cigarro, quando eu parar, vai ser muito difícil já ao acordar. Ou o cigarro após almoço”, relata a nutricionista. 

‘QUERO PARAR’

As três dizem ter intenção de cessar com o vício, apesar das dificuldades em fazê-lo. “Pretendo parar de fumar, e já tentei algumas vezes. Inclusive consigo ver muita diferença na minha saúde durante um tempo em que estive sem cigarro. Minha mãe tem trombose devido ao cigarro, mas, graças a Deus, hoje em dia ela não fuma mais”, prossegue Juliana.

Mariana jura que pretende parar e que, inclusive, já tentou fazer isso “algumas vezes”. Para isso, teria de superar algumas situações comuns ao dia a dia dela. “A maior dificuldade para parar de fumar é conseguir manter quando bebo ou saio aos finais de semana. E em momentos de estresse”, relata.

Já Mayara, inclusive, sabe de óbito de pessoa próxima por causa de câncer em decorrência do tabaco. “Mas continuo fumando, porque já tentei duas vezes parar, mas não durou mais do que uma semana, e agora estou em processo de redução. Troquei o cigarro pelo tabaco, julgando ser menos ofensivo à saúde. E é onde a gente se engana. O desejo é de parar mesmo”, confidencia a vendedora. 

Questionadas sobre o que diriam a quem sente alguma vontade de começar a fumar, seja por qualquer razão, as três são unânimes no conselho. “Não comece, que não faz falta nenhuma”, aconselha Juliana. “Não fume! Começar é fácil, parar é difícil. Já passou tantos anos sem, para que criar esse vício agora?, questiona Mayara. “Não vale a pena”, encerra Mariana.

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